A minha mãe era uma pessoa admirável. Adorava as coisas simples e bonitas da vida. A família, a natureza, a profissão que escolheu e sua Clínica no Barreiro. Era a minha melhor amiga.
Quando nasci Maria Laura Cabrita Seixas estava nos seus 43 anos e já era uma médica respeitada no Barreiro. Costumava recordar com saudade os tempos que passara em Coimbra, onde finalizou o curso de Medicina.
Aos 33 anos decidiu abrir uma maternidade numa antiga moradia da Rua Elias Garcia, quando o mais fácil seria seguir uma carreira num hospital público. A Clínica recebeu o nome de “Casa de Natividade São Gonçalo de Lagos”. Foi a primeira maternidade particular a funcionar no Barreiro e a 15ª no país, como comprova o número de alvará emitido pelo Ministério da Saúde. Em 1930, o seu pai, professor José Joaquim Rita Seixas fizera o mesmo na área do Ensino, inaugurando no Barreiro o “Colégio Barreirense”, depois Mendonça Furtado, a primeira escola privada do concelho.
A dedicação de Laura Seixas era total. Horas a fio de bata branca vestida e muitas noites sem dormir. Era assim o seu dia-a-dia, sem descanso. A relação entre as parturientes e a minha mãe era quase familiar. Muitas pediam-lhe que fosse a madrinha do bebé. Se fosse menina era certo que o nome seria Laura. Outras pacientes regressavam à maternidade para uma simples visita ou para o nascimento de um segundo ou terceiro filho. Também houve casos em que algumas mães viram nascer os netos na nossa Clínica.
No início dos anos 70, um sonho antigo concretiza-se com a construção de uma nova maternidade na Rua Eça de Queiroz. À medida que a população ia crescendo no Barreiro, a clínica modernizava-se. As novas instalações estavam ao nível das melhores maternidades do país em matéria de equipamento. Bloco operatório, duas enfermarias, quartos particulares, sala de partos e consultório. O novo edifício oferecia todas as condições às parturientes que continuavam a chegar em grande número de norte a sul. Confesso que a dada altura perdi a conta dos bebés que vi entrar e sair do berçário. Um dia a minha mostrou-me os registos oficiais. Os números são no mínimo invulgares. Entre 1965 e 1988 nasceram 10.286 crianças. Foram internadas 11.380 mulheres e feitas 1.194 intervenções cirúrgicas.
Entre estas crianças está a maior parte dos meus amigos. Na escola era habitual ter muitos colegas nascidos na Clínica. Orgulhava-me disso. Todos estes momentos preencheram a minha infância, até aos 16 anos. Recordo-me dos médicos, enfermeiras e das funcionárias incansáveis que colaboraram com a minha mãe nesta grande aventura. Lembro-me como se fosse hoje do inconfundível cheiro a éter que perfumava os corredores da Clínica, onde tive o privilégio de crescer a ver nascer. (...)
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Quando nasci Maria Laura Cabrita Seixas estava nos seus 43 anos e já era uma médica respeitada no Barreiro. Costumava recordar com saudade os tempos que passara em Coimbra, onde finalizou o curso de Medicina.
Aos 33 anos decidiu abrir uma maternidade numa antiga moradia da Rua Elias Garcia, quando o mais fácil seria seguir uma carreira num hospital público. A Clínica recebeu o nome de “Casa de Natividade São Gonçalo de Lagos”. Foi a primeira maternidade particular a funcionar no Barreiro e a 15ª no país, como comprova o número de alvará emitido pelo Ministério da Saúde. Em 1930, o seu pai, professor José Joaquim Rita Seixas fizera o mesmo na área do Ensino, inaugurando no Barreiro o “Colégio Barreirense”, depois Mendonça Furtado, a primeira escola privada do concelho.
A dedicação de Laura Seixas era total. Horas a fio de bata branca vestida e muitas noites sem dormir. Era assim o seu dia-a-dia, sem descanso. A relação entre as parturientes e a minha mãe era quase familiar. Muitas pediam-lhe que fosse a madrinha do bebé. Se fosse menina era certo que o nome seria Laura. Outras pacientes regressavam à maternidade para uma simples visita ou para o nascimento de um segundo ou terceiro filho. Também houve casos em que algumas mães viram nascer os netos na nossa Clínica.
No início dos anos 70, um sonho antigo concretiza-se com a construção de uma nova maternidade na Rua Eça de Queiroz. À medida que a população ia crescendo no Barreiro, a clínica modernizava-se. As novas instalações estavam ao nível das melhores maternidades do país em matéria de equipamento. Bloco operatório, duas enfermarias, quartos particulares, sala de partos e consultório. O novo edifício oferecia todas as condições às parturientes que continuavam a chegar em grande número de norte a sul. Confesso que a dada altura perdi a conta dos bebés que vi entrar e sair do berçário. Um dia a minha mostrou-me os registos oficiais. Os números são no mínimo invulgares. Entre 1965 e 1988 nasceram 10.286 crianças. Foram internadas 11.380 mulheres e feitas 1.194 intervenções cirúrgicas.
Entre estas crianças está a maior parte dos meus amigos. Na escola era habitual ter muitos colegas nascidos na Clínica. Orgulhava-me disso. Todos estes momentos preencheram a minha infância, até aos 16 anos. Recordo-me dos médicos, enfermeiras e das funcionárias incansáveis que colaboraram com a minha mãe nesta grande aventura. Lembro-me como se fosse hoje do inconfundível cheiro a éter que perfumava os corredores da Clínica, onde tive o privilégio de crescer a ver nascer. (...)
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Excerto do artigo publicado no Jornal de Barreiro e no Jornal Rostos
Tão lindo... o vosso amor era enorme....
ResponderEliminarPois era. Lembro-me da minha mãe todos os dias. Obrigado pela mensagem Alexandra.
ResponderEliminarArmando